Every Poem you write here
You will never understand,
Because when the waves arrive,
They will allways go off the end!

5.10.13

Antes que Santos se esgote



Antes que Santos se esgote
Olavo Thadeu Fermoseli Câmara
Especial para “A Tribuna”
Subindo, de Santos para São Paulo, em um dia de Semana, com pouca probabilidade de muito tráfego, me vi partici­pante de um drama - o congestio­namento - e o que me chamou a atenção foi o desenvolvimento da cena e a movimentação dos perso­nagens. O cenário da Rodovia dos Imigrantes, iluminado por um sol de quase 40ºC, apresentava tráfego nor­mal, quando repentinamente o fluxo foi perdendo em velocidade até que os veículos se tornaram estáticos. Em um primeiro instante, ordenadamente justapostos sobre as gene­rosas pistas da moderna rodovia. Entretanto, os motores permane­ciam ligados e, no instante seguinte, alguns motoristas espertos buscavam uma posição mais avançada, aproveitando-se da saída cautelosa do companheiro da fila ao lado (“A outra fila anda sempre mais de­pressa.”) ou utilizando-se do acostamento que, em pouco tempo, estava totalmente congestionado. Na seqüência seguinte, a sirene insistente do Corpo de Bombeiros, que serpenteava vagarosamente o mar de veículos, tentando em vão alcançar um caminhão que, alguns metros acima, consumiu-se em chamas, an­tes que pudesse receber uma gota de água.
Até aqui a cena foi descrita tal como realmente aconteceu... mas...e se o caminhão transportasse carga combustível ou qualquer produ­to tóxico? É uma situação que se enfrenta frequentemente quando participamos deste drama que é su­bir e descer a Serra do Mar (e já está em cartaz há muito tempo). A ligação entre o litoral e o interior, através da Serra do Mar, sempre foi problemática, desde a chegada de Martim Afonso de Souza.
É interessante observar a atitude dos motoristas disputando cada centímetro de pista para estar mais a frente, não guardando distância do veículo que vai adiante ou obs­truindo o acostamento na tentativa, sempre frustrada, de ganhar tempo.
Em se tratando de uma situação que se apresenta problemática, frequentemente e de forma cíclica previsível. Cuja solução, no momento, é impraticável e demanda um determinado tempo, necessário se faz adotar procedimentos com vis­tas a minimizar seus efeitos nega­tivos.
Congestionamentos ocasionados por acidentes são muito freqüentes, ainda que o fluxo seja reduzido. Por outro lado, são freqüentes e previsíveis os congestionamentos de fim de semana, feriados ou temporada, neste caso, causados pelo intenso fluxo que demanda a Baixada ou dela regressa. Em ambos os casos, campanhas educativas, visando o comportamento dos motoristas seriam providenciais. Isto poderia ser feito através de Sinalização Educativa nas rodovias, distribuição de volantes (impressos) nos pontos de acesso às rodovias, postos de abastecimento, ou mesmo, no pedágio, com a orientação para motoristas, em caso de congestionamento e, principalmente, a forma e alternativas para evitá-los.
A participação dos meios de co­municação em tal trabalho é fundamental. Boletins informativos sobre as condições de tráfego nas rodo­vias através de rádio contribuem sensivelmente para a redução des­tes problemas.
As autoestradas ale­mãs apresentam, ao longo de seu percurso, placas indicando a freqüência da emissora que emite boletins sobre as condições do tráfego regional.
Atualmente, na Alemanha, existe uma forte consciência dos proble­mas ambientais decorrentes da abertura de novas pistas. Por esta razão, foi desenvolvido um programa para utilização racional das autoestradas que envolve, entre outras coisas, alternativas de transporte de massa concorrendo com as pistas, Central de Carona - “Mitfahrezentrale” - organização exis­tente em vários países, onde o moto­rista deixa seu destino e o número de lugares disponíveis que, por uma taxa econômica, permitirá a outras pessoas viajar de carona.
Num primeiro momento, o programa visa a redução do número de veículos trafegando pelas autoestradas e, ao mesmo tempo, reduz o consumo de combustível e a conseqüente emis­são de resíduos contaminando o ambiente. Ainda assim é intenso o fluxo nas autoestradas e normal a ocorrência de congestionamentos. A partir do momento que se verifica a ocorrência sistemática de congestionamentos em um de­terminado trecho, são pintadas faixas brancas sobre a pista sinalizando, em caso de parada, a distância a ser mantida entre um veiculo e outro. São os congestionamentos localizados que ocorrem em situações previsíveis no tempo e no espaço.
Nestas situações, uma placa luminosa avisa que a “tantos” quilômetros, à frente, a pista encontra-se congestionada, permitindo a redução gra­dual da velocidade, com economia de combustível e sem risco de acidentes.
Um exemplo típico é o entronca­mento de Piaçaguera, ou a entrada de Santos, quando um fluxo esparramado se afunila, desembocando no centro da cidade.
Os ônibus de funcionários que demandam Cubatão concorrem ou divergem de um mesmo ponto em horários previstos causando enormes congestionamentos. A sinalização de pistas preferenciais, o controle dos horários de entrada e saída e a orientação adequada de seus motoristas resultariam em melhores condições para seu trabalho, evitando acidentes e atrasos. Estas medidas podem ser adotadas em curto prazo, porém, a médio e longo prazo, o transporte de massa, através da estrada de ferro que já existe, com ligação até o planalto, contribuiria para a redução gradual do problema de acesso não somente a Cubatão, como também a São Paulo.
 A solução que defende a construção de mais uma pista de acesso ou a ampliação das atuais merece uma análise mais abrangente, que avance além dos custos financeiros e dos impactos ambientais sobre a Serra do Mar. A Baixada Santista constitui-se em um pólo de atração turística, cujo raio de ação se estende para além dos limites da Grande São Paulo. Na medida em que o acesso a este pólo é facilitado, compromete-se a sua atratividade.
As praias são a principal atração da Baixada Santista e quando estas se tornam impraticáveis, em conseqüência de superpopulação flutuante ou não, caracteriza-se uma situação de esgo­to, e aqui não se refere ao esgoto sanitário, que também é um problema que se agrava nestas circunstâncias, mas a um conceito mais abrangente.
Este fenômeno foi estudado por biólogos que observaram o homossexualismo em grupos de ratos, em processo de superpopulação, e conseqüente escassez de alimentos, como mecanismo de controle da população flutuante, a fim de evitar o esgoto. A antropofagia, em outros grupos, funciona como mecanismo inibidor do esgoto. Assim foi observado que, em grupos de esganagatas, o fenômeno de se alimentar do se­melhante estava associado à superpopulação, desaparecendo assim que o equilíbrio fosse restabelecido. Desta forma, entendendo os mecanismos naturais de controle do equilíbrio populacional, ou concentração de indivíduos em um determinado meio, transferimos o conceito para grupos humanos e qualidade da vida. Na medida em que aumentamos a acessibilidade à Baixada Santista, estamos possibilitando que um número cada vez maior de indivíduos atinja este ponto em menor tempo. Isto significa um aumento do número de automóveis em circulação, aumento do consumo de água e alimentos e o conseqüente despejo de resíduos - neste caso, o esgotamento sanitário - concentrados em um pólo de atração (neste caso parti­cular, uma ilha).
Os efeitos negativos do esgoto são sentidos não somente pela população que de­manda o pólo (população flutuante), mas também pela população que nele reside. Sendo que a primeira tem como alternativa escolher outro local para seu fim de semana ou férias, enquanto a segunda vive neste pólo e ainda mais, depende economicamente da vinda da primeira.
Para se entender ainda melhor de que forma a atratividade é inversamente proporcional à acessibilidade, besta observar Guarujá, principalmente, quando se cogita da construção de uma ponte, em substituição às balsas que operam a morosa travessia. Até o momento os velhos ferry-boats funcionam como mecanismo inibidor do fluxo em direção a Guarujá, preservando, de certa forma, a atratividade das praias da ilha de Santo Amaro, não permitindo que ali se instale uma Situação de esgoto.
Assim como para se freqüentar uma praia menos poluída e mais tranqüila, enfrentamos a fila da balsa, precisamos aprender a conviver com o congestionamento, evitando acidentes, lembrando que, de alguma forma, ele contribui como mecanismo inibidor do fluxo em direção à Baixada Santista, preservando o que resta desta situação de esgoto.
Olavo Thadeu Fermoseli Câmara é Arquiteto e Professor
Artigo publicado na página 33 do jornal A TRIBUNA
- Domingo, 25 de janeiro de 1987

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