Os papagaios e os F-16
As árvores retorcidas do cerrado têm alguma coisa a ver com o bico deles, vestidas de folhas alegres de verde, algumas amarelas, facilitando ainda mais a mimetização.
Impossível vê-los nas árvores, tanto quanto impossível é ficar alheio à alegria, a mesma da árvore vestida pela primavera. Uma gritaria geral, mas não precisa muito tempo para perceber tratar-se de retumbantes gargalhadas, aquelas que se ouve nas gerais das tardes circenses, quando palhaços, os verdadeiros artistas do circo da vida fazem suas peripécias.
Visualmente, só são percebidos voando, desordenadamente para nós, buscando tocar-se, às vezes tocando-se, em manobras mirabolantes.
É o namoro das trepadeiras, buscando seus pares para o primeiro acasalamento - perpetuação da espécie, ciclo da vida.
Ao contrário do que se pode pensar, pela farra contagiante, são membros de uma família de princípios respeitáveis.
É de se perguntar: que espécie de princípios, ainda mais respeitáveis, pode reger essa sociedade bagunçada e estridente?
Pois bem, os casais que ora se escolhem não juram amar e respeitar um ao outro, na alegria e na tristeza até que a morte os separe. Eles simplesmente permanecem juntos até a morte, sem juras.
Agora, a árvore está repleta, parece que até ela grita de tanto que balança. Repentinamente, cessa a gritaria e tudo aquieta na árvore, deixando um vazio silêncio no ar... ... ... Segue-se um ruído maior que a gritaria de mil aves.
Ouve-se o ruído do jato, aquele que não se vê, quando se olha para o barulho, mas, olhando a frente dele... Lá vão eles... Sim são dois, como dois alfinetes furando as nuvens tranqüilas sob o azul do céu.
Em surdo silêncio, os pássaros se entreolham,
dizendo sem palavras:
— "Aqueles dois já se encontraram...
mas onde vão com tanta pressa?"
E voltam às gargalhadas.
Brasília-Lago Norte – Primavera de 1998 – Olavo Thadeu
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