Every Poem you write here
You will never understand,
Because when the waves arrive,
They will allways go off the end!

26.5.06

Um roteiro para pensar o entrelaçamento do Ambiente

Um roteiro para pensar o entrelaçamento do Ambiente

com Cinema e Educação.

Olavo Thadeu Fermoseli Câmara

Vamos aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser porém, antes de tudo e sempre, ao longo de toda vida, vamos aprender a pensar!

Na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI - UNESCO, coordenada por Jacques Delors[1], apresentou um relatório que tem como tema ”Os Quatro Pilares da Educação para o Século 21”.

Este relatório serviu de referência para a elaboração dos “Parâmetros Curriculares Nacionais” e estes orientaram o Currículo da Educação Básica para o Ensino Médio e Fundamental no Brasil. Daí, vem o resumo, onde negritei os pilares:

“A educação ao longo de toda a vida baseia-se [portanto] em quatro pilares:


Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.

Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ap desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.

Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.

Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligencia na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. “

Podemos pensar... A cadeira tem quatro pés. Então, está tudo certo!

Não, não está! Assim, não aprendemos a pensar!

Sabemos que não está tudo certo, sabemos que transformações como as propostas, tomando por base a Educação, são lentas. A idéia dos “quatro pilares” pode ser comparada a uma cadeira com quatro pés, ou quatro apoios – dessas comuns que existem por aí, sobre a qual nos sentamos todos os dias.

Acredito, tal como Arquitetos e Designers, que uma cadeira fica melhor com cinco pés – aqueles em forma pentagonal, que tornam a cadeira realmente estável e segura em seus movimentos.O quinto pilar, equivalente ao quinto pé da cadeira, aparentemente dispensável, é o aprender a pensar...

Destaco, a seguir, um trecho que antecede o resumo citado anteriormente.

“Ora, a Comissão pensa que cada um “dos quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade.”

Neste trecho, aparece a palavra “pensa” – única referência ao verbo pensar em todo relatório. “Ora, a Comissão pensa...”

A partir de um ligeiro panorama sobre a evolução histórica do Cinema, da Questão Ambiental e da Educação, em termos de processo e produto, podemos ter uma aproximação do grau de entrelaçamento contido em cada um deles e que, ao mesmo tempo, os contém. Na medida em que fechamos o foco em cada um desses panoramas evolutivos, detalhes mais expressivos e significativos completam o quadro, expondo cada vez mais esta intercomplementaridade.

Tomando, de um lado, a evolução do cinema, a partir da pintura, da fotografia e, finalmente, da cinematografia: em branco e preto e mudo, inicialmente, – este detalhe, que pode passar desapercebido, começa a exigir da platéia a capacidade de ler os textos intercalados às imagens. Com o tempo, vem o som, as cores, os efeitos cinematográficos computadorizados, acompanhados de um fazer junto e cooperação multi/transdisciplinares.

Dos três temas, o cinema, sem dúvida, foi o que mais e melhor se utilizou da tecnologia para seu desenvolvimento, consagrando um processo cujo fazer sempre contempla o trabalho em equipe e a cooperação – o conviver. O fazer do cinema pressupõe uma equipe ao longo de todo seu processo, que culmina com a exibição do produto e conseqüentes transformações – o cinema é um agente transformador por excelência – seja um cinema de arte, ou de consumo: o público ri, chora, vibra, ama e sofre, enfim, vive e se transforma, na maioria das vezes, junto; isto, em essência, corresponde ao conviver. A diferença fundamental reside na proposta do cinema de arte agregar o pensar, antes das outras transformações.

De outro lado, o Meio Ambiente aparece sofrendo prejuízos causados exatamente pelo desenvolvimento tecnológico. A Questão Ambiental começou a entrar em cena a partir da década de 70 do século passado, embora existam registros históricos isolados que denotem essa preocupação. No final do século 15, o Capitão João Gonçalves Zarco recomenda ao Rei de Portugal cuidado com os leões marinhos que procriam em uma caverna na orla de uma Ilha recém-descoberta, ainda que o inventário patrimonial destaque a exuberante cobertura e abundância de madeira, que terminou por dar nome a Ilha da Madeira...

“Numa dessas batalhas, seu navio perdeu a rota e chegou por acaso num grupo de Ilhas localizadas a 500 quilômetros da costa de Marrocos. A maior das ilhas era coberta por uma exuberante vegetação e Zarco a denominou Ilha da Madeira. No litoral dessa ilha, Zarco e seus tripulantes viram muitos leões marinhos (no português antigo: lobos marinhos) escondidos numa caverna e chamaram aquele lugar de "Câmara de Lobos". Em sua volta a Portugal, Zarco relatou à Sua Majestade a descoberta.” – Portal da Ilha da Madeira

No auge das Grandes Navegações, a tecnologia naval lusitana demandava madeira para as quilhas das embarcações, cujos calados, para garantir o domínio do Mar Tenebroso, deveriam ser muito maior do que o daquelas que cruzavam o Mediterrâneo; para tanto, extensas áreas de florestas foram devastadas – vale lembrar o nosso Pau Brasil.

Nesse pequeno corte histórico, fica clara a estreita relação entre Poder e Domínio de Tecnologia, que ao longo da trajetória das nações consagrou impérios que continuam se valendo da Tecnologia, até os nossos dias, em detrimento do Meio Ambiente.

Entre os dois aspectos enfocados, aparece a Educação, cuja trajetória evolutiva é bastante modesta. Num quadro irônico, mas nem por isso irreal, a evolução da Educação pode ser comparada à passagem da Era da Pedra Lascada para a Pedra Polida: das gravações em pedra bruta, de caráter indelével, passamos à pedra polida, cujo grande salto é o giz e o apagador, mesmo por que o prazo de validade das informações vem se reduzindo a cada dia, ou segundo. Esta evolução pode ter acontecido mais em função da necessidade de preservar as pedras, que se tornavam escassas, cumprindo o reciclar, reaproveitar e reutilizar, do que para facilitar o processo.

É evidente que existem tecnologias avançadas para Educação, a questão é disponibilizar ou democratizar o acesso a essas tecnologias.

Dos filósofos que escreveram sobre o aprender a pensar, para este momento, fico com Sêneca, cujas considerações sobre o aprender vão da vida até a morte e se revelam em sua obra Sobre a Brevidade da Vida, que pode ser sintetizada por este trecho capitular:

“Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer.” - E a perspectiva da morte nos faz pensar.

Olavo Thadeu - Professor



[1] Publicado em forma de livro no Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir - UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999

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